Execução de Evaldo dos Santos Rosa

Evaldo dos Santos Rosa: Presente!

 

"Vidas Negras Importam"

 

 

Era para ser um domingo festivo. Evaldo dos Santos Rosa, 46 anos, músico, dirigia-se com sua esposa, seu filho, o padrasto e uma amiga para um chá de bebê, quando foram surpreendidos pela ação do Exército, no Rio de Janeiro. Traço característico entre os ocupantes do automóvel alvejado: era uma família NEGRA. Oitenta (80) tiros foram disparados contra o carro. Os militares – completamente surdos aos apelos da esposa e dos transeuntes, de acordo com os relatos da esposa – não só não pararam de descarregar suas armas, como "debocharam" dos seus argumentos sobre serem pessoas honestas e trabalhadoras. A cena dantesca – já comum no cenário brasileiro – remete a outra execução ocorrida também na cidade do Rio de Janeiro, que levou à morte a deputada Marielle Franco. Firme defensora dos direitos humanos, e que há muito denunciava os abusos da política no Estado do Rio de Janeiro, a atuação das milícias, o despreparo da polícia e a falta de formação da Segurança Pública no Estado.

 

Oitenta (80) tiros direcionados a um carro com uma família NEGRA não pode ser visto como um incidente ou acaso.  Vem ao encontro do genocídio da população negra que ocorre à luz do sol, seja nas zonas de maior carência econômica, seja nas áreas que concentram pessoas de alto poder aquisitivo, em sua maioria branca.

 

É lastimável que, em uma entrevista a uma rede de televisão nacional, o atual ministro Sérgio Moro refira-se ao caso como 'coisas que podem acontecer'. De fato, acontecem e têm acontecido, ano após ano. O Brasil, ao longo de seus 519 anos, trata pretos e pobres como não cidadãos. Construiu o perfil do meliante, do marginal, do "fora da ordem", estereótipo comumente associado a uma pessoa negra. A morte de Evaldo Rosa dos Santos confirma o caráter racializado das relações sociais no país, como já denunciado por Marielle Franco, bem como há anos pelo movimento negro brasileiro: não, isso não pode seguir acontecendo!

 

Nós, docentes, discentes, pesquisadores/as, técnicos/as da Universidade de Brasília que assinamos esta Carta queremos registrar a nossa total indignação com mais este assassinato e a nossa solidariedade com a família brutalmente atacada – mais uma vez, pelo Estado brasileiro.

 

Somos completamente contrários/as à percepção do ministro de que se tratou de 'um incidente bastante trágico'.  E entendemos que cabe ao Estado e à sociedade brasileira, por meio de uma educação para as relações raciais, reconhecerem-se racistas, mudar comportamentos e tornarem-se menos insensíveis e violentos para com a parte negra de sua constituição. O caráter racista do ataque e dos 80 tiros que ceifaram a vida deste jovem  senhor, negro, diante de sua família, não pode se somar aos inúmeros abusos não punidos deste país.

 

 

O brutal assassinato de Evaldo seja investigado e punido!

 

 

 

            Evaldo Rosa dos Santos: Presente!

Assinam esta Carta:

 

NEAB/UnB - Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros

 

GEPPHERG/UNB - Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas, História, Educação das Relações Raciais e Gênero.

 

CEAM - Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares

 

NELiS - Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade

 

NEPPOS - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social

 

NESCUBA - Núcleo de Estudos Cubanos

 

NEPeM - Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Mulher

 

Genposs - Gênero Política Social e Serviços Sociais

 

 

 

 

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