por Colegiado do CEAM

Nota de repúdio à destruição do patrimônio público e da memória da história dos direitos humanos no Brasil

 

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Vimos repudiar o contínuo vilipêndio do patrimônio público com consequente destruição da memória dos povos que integram a sociedade brasileira em diferentes momentos civilizatórios, incluindo memórias e narrativas recentes sobre a história política nacional. O direito à memória e à verdade é um dos pilares da justiça de transição, sendo notório que nosso país foi oficialmente conivente com a não punição de torturadores que atuaram durante a ditadura militar brasileira. Essa lacuna na justiça se aprofunda em uma chaga incurável, posto que é acompanhada pela permanência da destruição de registros e narrativas sobre a história e sobre a diversidade social que integra o Brasil.

 

Não concordamos com destruição de quaisquer ideias, incluindo aquelas das quais discordamos pois sua existência é base para que possamos contra-argumentar em outros termos de concepções de mundo e de humanidade. O peso simbólico da destruição de livros é demasiado opressivo na atual conjuntura da política brasileira, que recentemente passou por um golpe de Estado em 2016 que denota a permanência do autoritarismo que estrutura as relações de colonização que nunca cessaram. Queimar e rasgar livros ecoa a inquisição, o nazismo, as ditaduras, o fascismo, a própria ditadura civil militar brasileira, além do crescente apagamento e invalidação das memórias e participação histórica dos povos tradicionais brasileiros na construção do país.

 

Ao termos em mãos documentos históricos e que criam sentidos para o presente, precisamos nos perguntar quais condições foram necessárias para que fosse possível que esses registros chegassem até aqui. Ao acessar a memória estamos sempre acessando um objeto inflamado passível de se tornar cinzas. Impedir vozes dissonantes no modo de contar a história é impor uma história única que destrói mundos, sujeitos e memórias, e portanto, possibilidades de futuro. A impossibilidade de preservar e fazer a manutenção da memória reflete em uma incapacidade de criar sentidos relacionais entre os sujeitos, dissolvendo as ideias de empatia, solidariedade e pertencimento. O apagamento da memória significa, também, o apagamento da subjetividade e, com isso, da identidade compartilhada entre indivíduos. Lamentamos que as fuligens do Museu Nacional tenham chegado à Biblioteca Central da UnB, que teve obras de direitos humanos depredadas propositadamente.

 

Nota aprovada na reunião extraordinária do CD-CEAM no Dia 05/10/2018